terça-feira, 4 de novembro de 2008

Contaminando a vida

Minamata, Japão, 1956.
No dia 21 de abril, uma criança com disfunções do sistema nervoso dá entrada no hospital Shin Nihon Chisso. Logo em seguida, no dia 10 de maio, quatro outros pacientes com sintomas similares aparecem no Centro de Saúde Pública de Kumamoto. Esta última acabou sendo a data oficial da descoberta do Mal de Minamata, doença cerebral causada pela ingestão de mercúrio.
Naquele ano, um comitê especializado designado para investigar a doença (de causas até então desconhecidas) reconheceu o mal em 56 pessoas. A investigação apontou pacientes das vizinhanças da Baía de Minamata, cujas dietas eram baseadas em peixes e frutos do mar. Foram encontrados cristais de mercúrio orgânico nos dejetos da industria química Chisso. O mercúrio era despejado em um rio que desaguava no mar, o principal fernecedor de alimentos às comunidades da região. A fauna marinha foi intoxicada e, através da comida, o metal altamente tóxico chegou aos organismos humanos.
As mortes e doenças conseqüentes da contaminação por mercúrio em Minamata são exemplos da força tóxica do grupo de elementos químicos conhecidos como metais pesados.
Os despejos de resíduos industriais são as principais fontes de contaminação das águas dos rios com metais pesados. Indústrias metalúrgicas, de tintas, de cloro e de plástico PVC (vinil), entre outras, utilizam mercúrio e diversos metais em suas linhas de produção e acabam lançando parte deles nos cursos de água. Outra fonte importante de contaminação do ambiente por metais pesados são os incineradores de lixo urbano e industrial, que provocam a sua volatização e formam cinzas ricas em metais, principalmente mercúrio, chumbo e cádmio.
Os metais pesados não podem ser destruídos e são altamente reativos do ponto de vista químico, o que explica a dificuldade de encontrá-los em estado puro na natureza. Normalmente, apresentam-se em concentrações muito pequenas, associados a outros elementos químicos, formando minerais em rochas. Quando lançados na água como resíduos industriais, podem ser absorvidos pelos tecidos animais e vegetais.
Uma vez que os rios deságuam no mar, estes poluentes podem alcançar as águas salgadas e, em parte, depositar-se no leito oceânico. Além disso, os metais contidos nos tecidos dos organismos vivos que habitam os mares acabam também se depositando, cedo ou tarde, nos sedimentos, representando um estoque permanente de contaminação para fauna e para flora aquáticas.
Estas substâncias tóxicas também depositam-se no solo ou em corpos d'água de regiões mais distantes, graças à movimentação das massas de ar. Assim, os metais pesados podem se acumular em todos os organismos que constituem a cadeia alimentar do homem. É claro que populações residentes em locais próximos à indústrias ou à incineradoras correm maiores riscos de contaminação.

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